domingo, 1 de agosto de 2010

Mulheres amarguradas de alma



"Então chegaram a Mara; mas não puderam beber as águas de Mara, porque eram amargas; por isso, chamou-se o seu nome Mara" (Exôdo 15.23). "Porém ela lhes dizia: Não me hameis Noemi: chamai-me Mara, porque grande amargura me tem dado o Todo-Poderoso" (Rute 1.20).

Ouvi uma pregação uma vez, quando o ministrante alertava para o fato de ser impossível deixar de passar pelo deserto da provação da vida, mas que era importante não deixar o deserto entrar no coração. Viver é um risco! Aprender a lidar com a vida e suas múltiplas histórias é necessário para que não nos amarguremos com ela.

Mulheres amarguradas de alma andam por aí, dominicalmente vão à igreja para "assistir" ao culto e durante a semana são eficientes em suas atividades eclesiásticas. Não raro alcançam seu cobiçado reconhecimento através de um cargo de destaque na igreja, tornando-se uma "oficial": diaconisa, presidente de organização, dirigente de círculo de oração e entre outros.

Como a alma é amargurada são permanente dor de cabeça para quem tem contato com elas. A língua é peçonha mortal com a fofoca, a delação e a desmedida franqueza que machucam sempre e não cura nunca.

Não raro perseguem jovens e adolescentes com seu moralismo, invejosas de sua alegria pueril. Odeiam e perseguem as mulheres que ousam ser diferentes delas; que são felizes. São tenazes perseguidoras de maridos e filhos; exigentes, loucas por limpeza, rígidas, endurecidas, odiosas e nunca, nunca, nunca misericordiosas, complacentes e perdoadoras. Não raro a amargura se transforma em doença.

Observo uma vizinha que faz demonstrações públicas de afeto exacerbado ao "marido", usa saiões para atestar "santidade", tem uma rotina de reuniões de oração e clichês já conhecidos de fervor espiritual. Freqüentemente ouço sua voz estridente e o olhar doentio, os xingamentos com as filhas, os maus-tratos a uma idosa dependente. Abandonada pelo marido, rejeitada pelos vizinhos, dores somáticas no corpo denunciam o julgamento da consciência pelo repúdio a própria mãe.

A forma de mulher de oração. O conteúdo de mulher de Mara.

O espetáculo patético da forma sobrepondo o conteúdo. Mas não é solitária neste espetáculo cotidiano escondido nas igrejas. Noemi reencontrou a alegria na providência divina, providência que não teve gosto do sangue dos "seus inimigos", mas o doce cuidado divino pelo simples fato de ser sua filha e serva. É fato que a vida tem seus dias bons e dias maus, mas em tudo somos fortalecidas.

O povo pôde beber da água amarga quando o madeiro a feriu e submergiu nela. Pela cruz e não pela religião temos a alma curada. Religião não cura. Religião apenas traz forma. Relacionamento com Deus é conteúdo. Conteúdo alcançado sob um olhar que reconhece Deus em seus caminhos.

Não tenho fórmula para vencer a amargura. Esse texto não é uma autoajuda. Mas propõe-se a ser uma reflexão sobre o cotidiano.

Que Deus nos ajude a viver intensamente a vida e suas contradições e confiar que Ele cuidará de nós, que nos consolará, fortalecerá e nos dará forças para vencermos e nos tornarmos sábias.

Isso é fé. A fé vence o mundo.

Fonte: UFMBB