Há cerca de 40 anos os chamados moradores de ruas eram pessoas sem escolaridade que migravam para as grandes cidades em busca de atividades remuneradas, sendo admitidas em trabalhos de baixa qualificação e reduzidos salários. Impossibilitados de custear uma estadia, pernoitavam nas ruas. Nos últimos anos, este perfil apresentou mudanças extremamente significativas. A recente pesquisa nacional aplicada em pessoas acima de 18 anos, revela que o morador das ruas tem familiares na cidade em que vivem e 60% exercem atividades remuneradas. O menor percentual (15%) indica os que sobrevivem de esmolas. Foi constatado que "os principais motivos pelos quais essas pessoas passaram a viver e morar na rua referem-se a problemas de alcoolismos, drogas, desemprego e desavenças com familiares".
O que muito surpreendeu os pesquisadores foi a presença de um grande grupo que cursou uma faculdade sendo que 50% destes obtiveram seu diploma universitário. Do total, 74% sabem ler e escrever e quase a metade (48,4%) alegaram ter completado o ensino fundamental.
Cerca de "31.922 brasileiros vivem em calçadas, praças, rodovias, parques, viadutos, postos de gasolina, praias, barcos, túneis, depósitos e prédios abandonados, becos, lixões, ferro-velho ou pernoitam em instituições". Estas pessoas não buscam os abrigos apresentando inúmeros motivos. Um deles é que, por serem locais que possibilitam aproximações e convivência, favorecem o compartilhamento de suas histórias de vida e o que eles desejam, na verdade, é não rememorar ou refletir sobre os seus dolorosos momentos. É o ser humano em condição de miserabilidade, sem funcionalidade econômica, sem perspectiva de reinserção no mercado, isolando-se do convívio humano e limitando-se à sobrevivência.
Esse retrato nos dá uma nova visão de pessoas que não constam nos censos demográficos, raramente são alcançados pelas políticas públicas e nem sequer são vistos como cidadãos. Inevitavelmente, em nossa rotina diária, deparamos com esse ser humano que vive (ou somente sobrevive) na condição de ser ou estar na rua. Hoje, categorizados como pessoas em situação de vulnerabilidade social, parecem já fazer parte da paisagem da cidade. Acostumamo-nos a olhá-lo, sentimos grande pesar e, em muitos momentos, ficamos amedrontados pela sua presença. Criado à imagem e semelhança de Deus, esse ser humano, que tem um corpo, uma alma, um coração que pulsa, uma história de vida, nascido para glorificar à Deus e desfrutar de uma felicidade eterna, pela definição de Jesus, é o meu próximo.
Fonte: Compromisso- Revista do Adulto Cristão- Ano CIII- n° 409- 1T09- DCC II- JUERP